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“Verbete se faz convidando pessoas?”

Elena Veríssimo – Outubro de 2022

É difícil achar alguém que, com acesso à internet, não saiba o que é o Wikipédia nos dias de hoje. Na época em que eu era novinha, essa plataforma era o terror dos professores! Que audácia seria consultar uma página no perigoso mundo virtual que pudesse ser escrita por qualquer um. Ainda me lembro de uma certa “pegadinha” que minha professora de sociologia fez conosco durante o ensino médio: passou um tempo inteiro escrevendo no quadro sobre um filósofo qualquer, até que, no fim da aula, disse que era tudo mentira. Depois, fez a mesma coisa com outra classe e pediu que eles criassem uma página na Wikipédia para que a terceira turma pudesse pesquisar e achar justamente o artigo criado por eles.

        É bem verdade que essa brincadeira foi uma ótima forma de entender que informações na internet não são sempre confiáveis — e aqui abre-se um grande leque para falar sobre as famosas fake news. No entanto, não é disso que gostaria de falar. O que acho interessante na Wikipédia — e que, cada vez mais, tem se distanciado do nosso dia a dia na internet — é o poder de colaboração entre pessoas. Como fenômeno de comunicação, a internet nos possibilitou, além de aumentar as contribuições sobre os mais diversos assuntos, também o poder de, finalmente, sermos “veículo de comunicação”.

         Diferentemente da TV ou do rádio, a internet possibilitou o ressoar de vozes que jamais alcançariam a tela de televisores ou as ondas sonoras de estações de rádio. Pessoas completamente anônimas puderam alcançar certa fama, para nichos específicos e até transcender, alcançando programas de TV, filmes no cinema, aparições em páginas de fofoca. Para além dos famosos que fizeram seu nome através da web, a internet pôde ser — e ainda é, apesar dos algoritmos — um espaço para grupos minoritários e comumente marginalizados se estabelecerem, criarem redes e tornarem-se donos de seus próprios conteúdos.

        Este é o caso do projeto do Dicionário de Favelas Marielle Franco (Wiki Favelas). Sua proposta se assemelha, na sua base, ao Wikipédia: um espaço no qual qualquer um pode escrever um artigo. Seu objetivo, porém, tem direcionamento muito mais específico que a enciclopédia livre: “O projeto do Dicionário de Favelas tem por objetivo favorecer a preservação da memória e identidades coletivas dos moradores das favelas, como parte do nosso compromisso com a expansão da cidadania e do direito à cidade e criar um espaço virtual que reúna o conhecimento sobre estes territórios de forma interdisciplinar e interinstitucional.” 

       Com muito prazer, a equipe do Urbelatam foi convidada a realizar uma oficina sobre mapeamento comunitário para o projeto Tamo Junto, cria do Wiki Favelas, lá em agosto de 2021, ainda de modo online. Ficamos muito felizes com o convite, especialmente porque sentimos que nosso trabalho era sólido e que era capaz de transpor os limites do Morro do Preventório e alcançar outras favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro. Agora, novamente, fomos convidados a registrar nossa passagem pelo projeto através de um verbete: Mapeamento no Preventório. Nele, você pode conferir um pouco da nossa trajetória e do que foi o mapeamento comunitário que construímos ao longo dos últimos três anos.

            Aproveito para refletir sobre a primeira pergunta do artigo: Verbete se faz convidando pessoas? Não sei se o convite é sempre necessário, mas sei que, assim como o Wikipédia, o Wiki Favelas faz um papel excelente em reunir pessoas em torno de um propósito. Com esse gostoso registro, espero que o trabalho do UrbeLatam reverbere por muitas outras favelas que enxerguem o potencial de um mapeamento em seus territórios.

           Veja nosso artigo na íntegra! https://outraspalavras.net/descolonizacoes/wikifavelas-cartografias-insurgentes-nas-periferias/